A Economia da Complexidade e os desafios para o Maranhão e Brasil

*Artigo publicado originalmente no Jornal O Imparcial, na edição do dia 10 de Fevereiro de 2019.

A complexidade é um parâmetro interessante para medir a sofisticação econômica e o grau de desenvolvimento de um país. Normalmente, mede-se o grau de complexidade de uma economia através da análise de sua pauta exportadora. Os pesquisadores Hidalgo e Hausmann, da Universidade de Harvard (EUA), coordenaram a elaboração de um interessante Atlas da Complexidade Econômica, no qual combinam dois conceitos básicos para mesurá-la: a não ubiquidade e a diversificação da pauta exportadora dos países (http://growthlab.cid.harvard.edu/files/growthlab/files/atlas_2013_part1.pdf).

O conceito de ubiquidade relaciona-se ao predomínio de produtos que podem ser encontrados na pauta exportadora de muitos outros países, como carnes não preparadas, minérios, cereais, entre outros. Inversamente, a não ubiquidade designa produtos exportados por poucos países, devendo-se diferenciar entre os que são raros (como o nióbio e urânio), daqueles que poucos países conseguem exportar, dado o elevado conteúdo tecnológico, a exemplo de aviões e medicamentos.

O conceito de diversificação mede a variedade de produtos exportados e combina-se à presença de bens não ubíquos na pauta exportadora, para medir o grau de sofisticação de sua estrutura produtiva. Paulo Gala, professor da FGV/EESP de São Paulo, comentando o referido Atlas da Complexidade Econômica, tece uma interessante comparação entre Paquistão e Cingapura: apesar de ambos os países terem o mesmo grau de diversificação na pauta exportadora (133 produtos distintos), os produtos exportados pelo Paquistão também o são por outros 28 países, enquanto que aqueles exportados por Cingapura figuram na pauta de 14 outros países.

As diferenças entre os dois países são melhor compreendidas quando se observa que os produtos exportados pelo Paquistão também o são por países de baixa diversidade na pauta, enquanto que os produtos exportados por Cingapura, predominam em países com pautas caracterizadas por alta diversidade e não ubiquidade. Importante também considerar que a complexidade econômica se aplica de forma relativa e sofre alterações à medida que o tempo passa. Assim, se produzir geladeiras era algo sofisticado em 1950, atualmente tornou-se simples e ubíquo.

O Brasil figura em uma posição intermediária no que tange à complexidade econômica, apresentando elevada diversificação na pauta exportadora, porém vem perdendo posições no ranking global de complexidade econômica nos últimos 25 anos, na medida em que amplia a participação na pauta de commodities minerais e agrícolas com baixa sofisticação tecnológica e cadeias produtivas curtas, enquanto que aqueles bens mais sofisticados e não ubíquos, como aviões e equipamentos elétricos de grande porte, por exemplo, perderam espaço na pauta. Estudiosos do tema apontam a conjunção de fatores como câmbio valorizado, sistema tributário disfuncional, custo de capital elevado, regulação ineficiente, além de deficiências no sistema de inovação, como causas para o atraso relativo.

Podemos aplicar tal metodologia ao caso do Maranhão, que ainda mantém uma pauta exportadora pouco diversificada e baseada sobretudo em produtos ubíquos, ainda que a crescente participação de polpa de celulose e papel, e de alumínio (que deve ser retomada em breve), revelem processos produtivos de elevada sofisticação. Importante observar que há grande potencial para elevarmos a complexidade econômica de nossa estrutura produtiva. A exportação de carnes frigorificadas do tipo “halal”, preparadas segundo os preceitos e rituais estabelecidos pela religião muçulmana, é uma possibilidade concreta, quando analisamos os investimentos recentes no Porto do Itaqui. A qualificação do turismo a partir da crescente customização dos serviços, do avanço na pauta do saneamento e da boa gestão dos ativos ambientais e histórico-culturais é outro eixo onde podem ocorrer avanços significativos.

E o mais interessante é que podemos fazer isto, em ambos os segmentos apontados, com inclusão socioprodutiva e com respeito à sustentabilidade ambiental, que crescentemente configuram-se como importantes fontes de agregação de valor aos produtos exportados.

Artigo do Prof. Dr. Felipe de Holanda